terça-feira, maio 09, 2006

Habilidade mediática

A agenda política gere-se dia a dia. O que interessa aos políticos é "estar bem" nas notícias do dia. A preocupação com aquilo que vai acontecer amanhã é mínima e, por maioria de razão, com aquilo que vai acontecer na próxima semana ou no próximo mês é ainda menor.
Vem isto a propósito das notícias postas a circular na comunicação social segundo as quais, o Governo está muito zangado com o Sr. Patrick Monteiro de Barros, pois o projecto para a construção da nova Refinaria de Sines já não está projectado conforme tinha sido anunciado. Por um lado prevê-se agora que as emissões poluentes sejam cerca de 3 vezes maiores e que a componente exportação tenha muito menos importância no plano de negócios do que era previsto.
Tudo isto poderia ter algumas normalidade, não fosse dar-se o caso de termos visto o nosso Primeiro Ministro, há algumas semanas, usar o exemplo da construção desta mesma Refinaria para ilustrar os sinais de confiança na nossa economia que, segundo ele, já se sentem.
Feita uma análise com mais profundidade às coisas, conclui-se o seguinte:
1.- Algumas das intervenções do Primeiro Ministro tem o mesmo rigor e o mesmo grau de credibilidade que um "bitaite". Só assim se compreende o tom afirmativo, convicto e confiante com que falou deste investimento há algumas semanas que, vê-se agora, está ainda muito verde.
2.- A comunicação social é meramente instrumental ao serviço da política de informação do Governo. Só assim se compreende que hoje tenhamos assistido à difusão desta notícia sem se ter escutado a referência às declarações do Primeiro Ministro sobre o mesmo assunto proferidas poucos dias atrás.
3.- Com bastante habilidade - deve reconhecer-se - e aproveitando o adormecimento da comunicação social e de outro tipo de forças (partidos da oposição, por exemplo), o Governo conseguiu sair de forma airosa de uma situação incómoda. O ar convicto e quase que impiedoso pertante um prevaricador com que o Ministro da Economia transmitiu a "intransigência" do Governo perante o incumprimento das premissas ambientais do projecto ficou muito bem aos "olhos do povo".
Ou seja, depois de ter feito boa figura na imprensa do dia em que anunciou um grande projecto para Sines (que agora parece não poder concretizar-se), o Governo consegue sair-se bem hoje, dizendo exactamente o contrário.

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