O problema da avaliação dos professores voltou à ordem do dia. Segundo consta, o Governo prepara-se para avançar para um processo de avaliação do desempenho dos docentes que incluirá, como um dos critérios, a avaliação que deles fazem os pais dos alunos.
Antes de avançar com as minhas opiniões sobre o assunto, gostava de realçar que, enquanto fui aluno, sempre frequentei (sem a mínima queixa, diga-se) escolas públicas, pelo que aquilo que eu disser nada tem que ver com preconceitos publico/privado.
Em primeiro lugar, considero positivo que se faça avaliação dos professores. Mais, não só é positivo, como é fundamental.
Em segundo lugar, penso que é importante não desfocar as coisas. Os professores do ensino público são funcionários de alguém, do Governo, através do Ministério da Educação. Ora, eu estou habituado a que qualquer entidade faça, ela própria, a avaliação dos seus colaboradores. Parece-me normal que queira saber se os seus activos humanos estão a atingir os objectivos, podendo, em função disso, tomar as medidas que entenda necessárias.
Em terceiro lugar, não consigo perceber o porquê de se colocar o ênfase na avaliação que os pais fazem do trabalho dos professores. Será que os pais tem conhecimentos e meios para poder avaliar se um professor trabalha bem? É óbvio que os pais tem alguns meios para isso, mas não me parece que sejam quem melhor preparado está para esse efeito.
Em quarto lugar, parece-me que poderá mesmo haver um conflito de interesses entre os pais serem avaliadores daqueles que, em última análise, avaliam os seus filhos.
Posto isto, parece-me claro que esta medida mais não é do que a assunção de que o Ministério da Educação não se sente capaz de avaliar os seus docentes. Ora, na falta de capacidade, decide passar a bola para os pais. Parece-me que esta medida não ajuda nada a melhorar a qualidade do ensino, nem aumenta a confiança dos portugueses nas escolas públicas.
Já que estamos numa fase de ideias, aqui fica uma:
- Que tal incluir na avaliação dos professores os resultados obtidos pelos seus alunos? A formula era simples, bastando submeter todos os alunos a exames nacionais idênticos e aferir o desempenho dos professores em função dos resultados conseguidos pelos seus alunos.
Será esta uma formula perfeita? Aceito que possa não ser, mas acredito que devidamente poderada pelos aspectos extrínsecos à prórpia actividade lectiva, talvez fosse o mais transparente de todos e o que melhor incentivasse a melhoria da qualidade global.
quarta-feira, maio 31, 2006
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4 comentários:
Parece que o único objectivo desta senhora era chegar a Ministra da Educação para enxovalhar os professores. Será algum trauma de infância?
Esta senhora ainda nada fez que não seja “atiçar” os pais e a opinião pública contra a Escola e os professores. Existem tantos problemas no dia-a-dia das escolas para serem resolvidos, mas parece que ela decidiu divertir-se à custa dos professores, transformando-os nos verdadeiros e únicos culpados do insucesso dos alunos.
Como em todas as classes profissionais existem os “menos empenhados”, mas garantidamente serão uma minoria. E nesses casos que se accionem os mecanismos existentes. Afinal para que existem os inspectores no ME? Será apenas para enfeitarem os gabinetes?
Acredito que o sucesso dos alunos depende do trabalho conjunto entre escola e família, mas não da forma que esta senhora fala, querendo transformar uns em polícias dos outros. Porque se os pais vão ter de avaliar os professores, os professores também deveriam poder avaliar os pais (primeiros responsáveis pela educação dos seus filhos) … e garanto que haveria muita coisa para dizer (pois, na maioria das vezes, são os pais, com as suas atitudes, os primeiros a desvalorizar a escola perante os filhos).
Sim senhora, vamos levar os pais à escola, sítio onde poucos são os que vão regularmente para tomar conhecimento dos progressos e do comportamento dos seus educandos. Comecem os pais a aparecer às reuniões para que são convocados e não se esqueçam de, pelo menos, levantar as avaliações feitas pelos professores.
Quanto à “proposta de avaliação” do Miguel, espero que tenha visto a reportagem e o debate que ontem passou na RTP1, após o Telejornal. Consegue imaginar os resultados dos alunos que pertençam a turmas com crianças que se comportam daquela forma? O interesse delas na escola é “zero” … (e agora terão de andar lá até ao 12º Ano).
E que tipo de avaliação poderiam os pais destes alunos fazer aos professores dos seus filhos? Ou será que a senhora ministra vai seleccionar os pais avaliadores? Ou será ainda esta avaliação um pretexto para a srª ministra avaliar a qualidade do português dos pais? E os Educadores de Infância iam ser avaliados como? Também se iriam pôr crianças de 3,4, 5 e 6 anos a fazer exames nacionais? E que resultados podem esperar os professores de escolas de zonas rurais, em que a grande maioria dos alunos quer é acabar depressa o (agora) 9º ano para ir trabalhar, porque não gosta da escola, ou porque tem de ajudar a família.
No meu tempo chumbávamos com 3 negativas, hoje os alunos dão-se ao luxo de saber que, em determinadas situações, “não os podem chumbar”, em anos intermédios de ciclo até se não tiverem atingido as competências mínimas ou se tiverem 4 negativas. Estudar para quê? Afinal os pais até já lhes deram o telemóvel topo de gama…
Os meus parabéns.
Excelente raciocínio e uma óptima proposta
Também se podia perguntar à Ministra: quem avalia os pais...? Os filhos?
Cara Cristin@,
Concordo com grande parte do seu texto. Basicamente defendo que o Ministério da Educação, enquanto entidade que gere as escolas, deve assumir-se na plenitude, ou seja, deve ser ele a saber avaliar os docentes que contrata e a quem paga. Infelizmente o ME enredou-se numa teia legislativa e burocrática tal que parece ter desistido de exercer essa função.
Quanto à questão que me colocou relativamente ao meu contributo para a discussão de um modelo de avaliação, respondo-lhe com o texto do post: "...acredito que devidamente poderada pelos aspectos extrínsecos à prórpia actividade lectiva...". Ora, a lamentável situação que se vive na escola apresentada no programa da RTP configura um aspecto extrinseco à actividade lectiva propriamente dita de um professor. Nesses casos, e se a avaliação fosse efectuada com justiça, um professor com uma turma de resultados medianos poderia merecer uma avaliação tão ou ainda mais positiva do que um professor de uma turma de notas máximas.
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