sexta-feira, junho 23, 2006

Quadros de excelência

O Mário não gosta de Quadros de Excelência. Acha que são instrumentos que disfarçam a fraca qualidade das escolas e que fazem despertar os instintos competitivos nos jovens estudantes além de terem o perigo de causar graves prejuízos ao equilíbrio psicológico de quem “ficar para trás”.
Com toda a franqueza meu caro Mário, esta é uma questão sobre a qual estou em absoluto desacordo consigo. Utilizando uma imagem geográfica, se você estivesse em Portugal, eu, sobre este tema, estaria na Austrália.
Vejamos os seus argumentos. Quanto ao facto de dizer que a publicação dos nomes dos excelentes só serve para as fracas escolas disfarçarem ou encobrirem a mediocridade do seu ensino, só posso entender isso como brincadeira da sua parte. É que se reparar, só criam Quadros de Excelência as escolas que alcançam, em média, melhores resultados. Sem sair do mesmo exemplo, veja que a Escola Secundária Eça de Queirós é reconhecida como uma boa escola, estando mesmo entre as 100 melhores do país segundo rankings oficiais.


Diz ainda que o Quadro de Excelência desperta os instintos competitivos nos jovens estudantes. Para si, parece que isso é mau. Ora, para mim, isso é óptimo. É bom que os jovens estudantes percebam desde tenra idade que tudo na vida implica esforço. É bom que percebam desde cedo que a cada momento nos devemos mover por metas e que é necessário lutar para as alcançar. Você pensa que isso é mau. Imagina imediatamente que as pobres criancinhas, perante esses desafios, vão começar a atropelar os colegas de turma, a recorrer aos mais vis métodos para alcançar os seus fins transformando-se em autênticos exemplos de mau carácter.
Meu caro Mário, julgo que deve deixar de ser tão pessimista. Olhe que a obtenção de bom aproveitamento escolar está ao alcance da larga maioria dos jovens. E olhe que ao contrário de muitas coisas, a obtenção de boas notas não é algo mutuamente exclusivo. Dito por outras palavras, as boas notas, em teoria, são infinitas. Ao contrários dos bens escassos, o facto de alguns as alcançarem não impede os restantes de também as conseguirem. Desde que mereçam, é claro.
É exactamente aqui que está o problema. É que para se alcançar boas notas é preciso merecer. E para merecer, é preciso trabalhar já que, como sabe, nesta vida é raro as coisas caírem-nos do céu. Dir-me-á: isso até pode ser verdade, mas no final, porque razão é preciso haver a divulgação em Quadro de Excelência dos nomes dos melhores? Eu respondo-lhe: porque é justo. Porque, quem se esforça para alcançar objectivos, gosta de ser reconhecido. É humano. Aliás, o reconhecimento social é um prémio adequado e que deveria ser acarinhado e incentivado. Infelizmente aquilo que vemos é a proliferação de sentimentos como a inveja e a maledicência.
Por outro lado diz-me que o que é necessário é elevar o nível médio do ensino e não incentivar a existência de uma “coutada” de excelentes. Ora, o que me parece é que o nível médio nunca se elevará se não incentivarmos a excelência. A escola não deve trabalhar para formar alunos de 10. A escola deve lutar para que todos cheguem ao 20. Só assim conseguirá que no final haja um nível médio elevado. É que se começarmos a lutar para o 10 no início, como parece ser advogado por si, o mais certo é ficarmos-nos pelos 7 ou 8 no máximo..
Finalmente, vou deixar-lhe uma pequena nota outro argumento. É errado dizer que o Quadro de Excelência pode criar desequilíbrios psicológicos nos alunos menos bem sucedidos. Neste caso, você vê o caso pelo prisma do “copo meio vazio” e eu gosto de o ver pelo lado do “copo meio cheio”. O Quadro de Excelência tem de ser encarado como um lugar dos excelentes. Deve ser o lugar daqueles em quem toda uma comunidade escolar, esteja ou não lá incluída, sente orgulho. Numa imagem futebolística, bem adequada a estes tempos, o Quadro de Excelência é uma espécie de selecção nacional. Será que acha que eu, por não ser tão dotado como o Cristiano Ronaldo vivo amargurado por esse facto? Pois olhe que não. Ao contrário, sinto um enorme orgulho em dizer, a quem me queira ouvir, que tenho muito orgulho em ser do país que tão prodigioso jogador foi capaz de criar. Onde está então o espaço para a depressão? Só na cabeça dos deprimidos ou daqueles que tem medo das sobras. Acho que não devemos ir por aí...

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